Catexia psicanálise e neurologia
Seguindo a sequencias de temas sugeridos, vamos discutir um pouco o termo catexia segundo a psicanálise de Freud.
O termo catexia, refere-se a cargas de energia psíquicas, Freud incluiu inicialmente suas ideias sobre catexia em 1913 no decorrer de uma discussão a respeito de um caso clínico.
Mas a noção de catexia já existia em seus escritos embora aparecesse sob a forma de expressões tais como, “suprido de energia”, “carregado de uma soma de excitação”, entre outras. Já em 1894 Freud referia-se ao conceito de que alguma coisa precisava ser distinguida nas funções mentais – uma cota de afeto ou soma de excitação – que possuía características de quantidade (embora não pudesse ser medida) e com possibilidades de aumentar, diminuir, deslocar-se e descarregar-se; ela percorria os traços de memória das idéias à semelhança da carga elétrica quando se expande sobre a superfície dos corpos.
Como entender nos dias atuais esta colocação feita por Freud? Talvez, da seguinte maneira: o ponto de encontro entre uma terminação axônica e outra célula nervosa ou entre o axônio e uma célula muscular ou glandular foi denominada de sinapse por Sherrington (1857- 1952). Nas sinapses o potencial de ação é transferido de uma célula para outra. Inicialmente, pensava-se, de maneira errada, que o axônio se ligava firmemente à célula pós-sinapsial. Esta forma de sinapse, conhecida como elétrica, é considerada muito rara. Nos mamíferos e no homem prevalecem as sinapses denominadas químicas.
É possível que idéias como essas tenham influenciado Freud levando-o a comparar o deslocamento da cota de afeto com expansão da carga elétrica na superfície dos corpos. Por outro lado, a maneira como Freud expõe a teoria dos neurônios e as barreiras de contato, que podem ser consideradas como sendo as sinapses, permite supor que esta interpretação da chamada cota de afeto (catexia) pode ser, pelo menos em parte, válida.
Inicialmente, Freud retrata catexia como entidade material, calcada na estrutura histológica do sistema nervoso e, consequentemente, a idéia de catexia estava atrelada à neurologia.
Mais tarde, amplia-se a noção existente sobre a questão com o advento dos conceitos de catexias livre e ligada. O termo catexia pode ser empregado para indicar: a origem da excitação, por ex., uma sequência de pensamento pode receber uma catexia de um desejo inconsciente; o deslocamento de cargas energéticas, p. ex., idéias com carga de intensidade débil podem receber um reforço de carga proveniente de idéias fortemente catexiadas ; se a carga de energia psíquica é forte ou fraca; a carga de energia psíquica vinculada a objetos (catexia objetal) ; o interesse libidinal que as pessoas têm por seus objetos amorosos (catexia libidinal); por exemplo, uma pessoa doente pode retirar sua catexia do objeto amoroso redirecionando-o para o seu próprio ego até restabelecer-se. Em termos práticos, catexia pode ser entendida como investimento de energia psíquica.
Texto construído por Paulo Bearzoti – Sexualidade: um conceito psicanalítico freudiano – v. 52, n. 1, p. 3-5, 1994.
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