Masculinidade tóxica e as dores que podem causar ao homem.

O que é a masculinidade?

Ultimamente venho recebendo algumas sugestões de temas através do meu perfil no instagram. Com certeza um assunto recorrente tem sido a masculinidade tóxica e as dores que podem causar ao homem. Porém, o que é o homem? Aliás, a própria palavra carrega em si uma ambiguidade, estamos falando de homem enquanto humanidade ou de um sujeito do sexo masculino? Com o avançar dos movimentos feministas percebe-se uma notável crise da masculinidade. A imagem do homem como figura dominante na sociedade aos poucos recebe a influência do feminino, que passa a ocupar novos lugares no mundo (Eduardo, P., 2013).

Estudos muito bem fundamentados, apontaram que a hiperatividade dos heróis nazistas escondia um “eu” frágil e a permanência de grandes conflitos sexuais. Em fim, o que é essa masculinidade frágil que precisa ser constantemente reafirmada pelo homem? A dificuldade de encontrar estudos sobre a figura masculina em partes se dá pela ausência de dados obtidos em decorrência do baixo número de pacientes do sexo masculino que buscam atendimento em saúde mental. Iniciar um processo terapêutico representa lidar com suas fraquezas, lidar com a falta, chorar, sentir, se emocionar, elementos esses que em geral são barrados aos homens, que pela necessidade de reafirmar sua masculinidade, reprimem sua espontaneidade, suas emoções e etc.

As dores que podem causar ao homem.

Quando pensamos na masculinidade, é comum imaginarmos um sujeito rígido, violento, durão e tudo mais, isso torna o homem imune aos efeitos sintomáticos da estrutura psíquica? Pelo contrário, conforme vemos em algumas pesquisa, no Brasil por exemplo, os homens representam 79% dos casos de suicídio (OMS, 2016), podemos pensar que parte dessa tragédia se dá pelo baixo índice de procura dos homens por atendimento psicológico. Entre os anos de 2017-2018 no total de pacientes atendidos por psicólogos do Brasil, apenas 34% são homens e 66% mulheres, o que indica uma baixa valorização da saúde mental pelos homens.

Tóxica pra quem?

Para falarmos de masculinidade toxica, precisamos pensar em como um sujeito não analisado, pode afetar a si mesmo e aos outros. O Brasil ocupa o 5º lugar na posição de países com o maior número de casos registrados de feminicídio e 1º lugar em casos de violência, preconceito, discriminação e exclusão dos grupos LGBTQI+. Ao olharmos pela ótica psicanalítica , tais crimes não se direcionam à mulher enquanto gênero, ou seja, não visam atacar a mulher em seu papel social. A nosso ver, é uma violência direcionada ao feminino – conceito mais amplo, forjado por Jacques Lacan, em que a diferença não incide sobre a anatomia, mas em uma forma distinta de gozo.

Nesse sentido, os homossexuais podem ser o alvo da mesma violência contra a mulher, já que se configura como um ataque ao héteros (R. Domiano et all, 2018). Tal rejeição pode ser resultado do feminino que reside naquele sujeito, e pela tentativa de repressão para se encaixar nessa proposta cultural de um homem másculo, rígido, levando-o a atacar aquilo que está no outro, mas que também diz dele próprio, uma feminilidade reprimida, um desejo homossexual reprimido, que produz ataques a esse “outro” que também é o “eu”.
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Fontes:


BULAMAH, Lucas Charafeddine; KUPERMANN, Daniel. A proscrição da homossexualidade masculina na história do movimento psicanalítico institucionalizado, 2018


http://flaviomendespsicologo.com.br/movimentos-no-consultorio-em-2017-2018-relatorio/Eduardo, P. A noção de homem em Lacan: Uma leitura das fórmulas da sexuação a partir da história da masculinidade ocidental. 2013
Renata Damiano Riguini, Cristina Moreira Marcos: Cinco Notas sobre o Feminicídio a partir da Psicanálise (2018)

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