Existe uma weltanschauung da psicanálise?

Na conferência 35, Freud questiona se a psicanálise conduz a uma visão de mundo. Weltanschauung contêm em si uma visão de mundo e da vida, são transitórias e corresponde ao modo de vida das pessoas de determinada época. Freud salienta que weltanschauung é um conceito de difícil tradução das quais não alcançam seu completo significado, e mesmo assim, a define como “uma construção intelectual que soluciona todos os problemas de nossa existência, uniformemente, com base em uma hipótese superior dominante, a qual, por conseguinte, não deixa nenhuma pergunta sem resposta e na qual tudo que nos interessa encontra um lugar fixo” (FREUD, 1933). Nesse sentido, a weltanschauung, sendo uma forma de não deixar nenhuma pergunta sem resposta, situa-se no lugar ideal dos desejos humanos, significaria assim o fim dos conflitos.

Ao formular uma margem de liberdade para o sujeito e buscar tratar o real por uma lógica do discurso, Lacan apresenta um percurso alternativo: o conceito de objeto a representa o esforço em manter a psicanálise na abertura, assumindo um potencial de permanente reinvenção, uma vez que a opacidade do real é um elemento intrínseco ao próprio objeto, necessário e não eliminável. Dessa forma, a psicanálise é uma política do sintoma que, distanciada da ciência dedicada ao capitalismo – a qual exclui o sujeito e rejeita elementos estranhos -, responsabiliza-se pela subjetividade do sujeito com seu objeto a particular.

Uma vez que a psicanálise é solicitada a construir uma teoria do engano, essencial ao psicanalista a que chamamos de “suposto saber”, seu empenho orienta-se na direção de, nos dizeres de Lacan: “uma teoria que inclua uma falta, a ser encontrada em todos os níveis, inscrevendo-se como indeterminação, ali como certeza e a formar o nó do ininterpretável” (LACAN, 1967).

À vista disso, a psicanálise é incapaz de construir uma weltanschauung, pois é a ciência da falta: do real de que não há relação sexual, falta que se transmite e é experimentada na análise.

Referências:

FREUD, S. Novas conferências introdutórias sobre psicanálise e outros trabalhos (1932-1936). Imago: Rio de Janeiro, 2006.
LACAN, J. Seminário XI (1964-1988). Zahar: Rio de Janeiro, 1973.

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