A Diferença entre Luto e melancolia – Sigmund Freud (1917)

Imagem do filme "Melancolia" de Lars von Trier (2011) - Psicanálise
Imagem do filme “Melancolia” de Lars von Trier (2011) – Artigo: Moraes, B. A Diferença entre Luto e melancolia – Sigmund Freud (1917). Espaço Penseé (2020)

A Diferença entre luto e melancolia para a psicanálise

No luto, após um tempo não muito longo, os mais graves afastamentos são superados. Já na melancolia, o desânimo profundo, a perda do interesse pelo mundo, a consequente perda da capacidade de amar são expressas por recriminações e expectativas de punição. Correspondem a uma perda ainda mais ideal, que não pode ser reconhecida (FREUD, [1917/ 1915] 1996).

Freud ([1917/1915] 1996) faz uma distinção:

O melancólico, mesmo que saiba quem ele perdeu, desconhece o que ele perdeu nesse alguém. Já no luto, não há nada de inconsciente em relação a uma perda. A diferença é que na melancolia o que está perdido é o que Freud já identifica como a ‘causa do desejo’ que a ligação com o objeto implica.

(FREUD, [1917/ 1915] 1996)

Jacques Lacan: Luto e melancolia


Lacan inscreve a problemática especular no âmbito de uma ligação simbólica intermediada pela lei, numa troca de símbolos que situa uns em relação aos outros e que irá desaguar nos fenômenos do amor. Destaca a função simbólica do Ideal do Eu diferenciando-a da noção freudiana que o associa com os imperativos do Supereu.

Na descrição lacaniana da loucura e da paixão, a melancolia teria a mesma dinâmica, quando o Eu Ideal “enquanto falante”, ou seja, ocupando no mundo dos objetos a função simbólica do Ideal de Eu, produz, segundo as palavras de Lacan ([1953-1954] 2009, p. 189),

[…] a captação narcísica com que Freud nos martela os ouvidos. Pensem que, no momento em que essa confusão se produz, não há mais nenhuma espécie de regulação possível no aparelho.

Lacan ([1953-1954] 2009, p. 189)


Segundo Freud, o discurso melancólico pode ser efeito de uma espécie de saber acerca das fantasias primitivas inconscientes. E nos pergunta: “É preciso adoecer para se chegar a uma verdade dessa natureza?” (FREUD, [1917/1915] 1996, p. 252).

Referências:

FREUD, S. (1917[1916-17]). Conferências Introdutórias sobre Psicanálise. In: FREUD, S. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. v. 16. Rio de Janeiro: Imago, 1990, p. 287-539.

LACAN, J. (1953 – 54) O seminário, livro 1: Os escritos técnicos de Freud. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1979.

_______________.(1956 – 57) O seminário, livro 4: A relação de objeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1995.

LAZARINI, Gabriela. Considerações iniciais sobre a melancolia. Estud. psicanal., Belo Horizonte , n. 48, p. 147-155, dez. 2017


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