O que é o divã?
Para que haja analise é preciso ir para o divã? Sem dúvidas muito da imagem que a psicanalise transmite, desde seu surgimento, a associa diretamente ao divã. Antes mesmo da descoberta da psicanálise, Freud já se utilizava do divã na aplicação da hipnose. Nesse sentido, é possível pensar o divã, incialmente, como um objeto simbólico que foi preservado nos métodos aplicados pela psicanálise posteriormente.
Outro elemento de grande importância, é que inegavelmente no divã, deitado, sem ter o “outro” ao alcance, é possível se relacionar melhor com as palavras, através da suspensão da pulsão escópica. O olhar muitas vezes, emerge como barreira para o tratamento, justamente por ser difícil encarar o outro, quando certos conteúdos estão sendo levantados em análise.
Lacan dividiu o tratamento em duas etapas, ou seja, as entrevistas preliminares que ocorrem frente a frente, e a entrada em análise, que marca a inicialização da utilização do divã, o que geralmente ocorre, naquele momento em que o vínculo já está formado, e a necessidade do contato visual já se tornou obsoleta.
De caso a caso, cada sujeito demanda, ou não, do divã, a depender dos fatores que emergem no processo analítico de cada um.
Pulsão escópica.
Não tratarei aqui do tema pulsão, uma vez que já abordei tal assunto anteriormente no texto: PULSÕES – De Freud a Lacan, disponível abaixo.
Ao lado da pulsão invocante, a pulsão escópica atua como agente organizador do regime psíquico através da inclusão de estruturas de linguagem adquiridas no contato com o outro que o cerca, ressaltando, como bem aponta Miller (2005), a importância do imaginário no que diz respeito ao gozo. É nesse sentido que Lacan diz que “no nível escópico, não estamos mais no nível do pedido, mas do desejo, do desejo do Outro. É o mesmo no nível da pulsão invocadora, que é a mais próxima da experiência do inconsciente” (Lacan, 1964/1998, p. 102).
RAVANELLO, Tiago; DUNKER, Christian Ingo Lenz; BEIVIDAS, Waldir.
A psicanálise é marcada por momentos muito significativos em sua historia, sendo um deles a utilização do divã por Freud como ferramenta analítica. Houveram inúmeros questionamentos a respeito desse ato, que podemos pensar como algo revolucionário e que mudaria muitas coisas para a psicanálise e também para as ciências psíquicas que no geral, associam a figura do divã ao tratamento em saúde mental.
Mas afinal, o que levou Sigmund Freud a retirar a visão da cena em um ambiente onde a fala é privilegiada? É importante pensarmos que o olhar não perdeu seu espaço ali, mas sim, ganhou um novo lugar.
Não ignorando o fato de que a pulsão em si necessita de um apoio somático, é preciso ir além daquilo que os olhos podem ver, aumentando seu próprio alcance e passando a considerá-la enquanto pulsão escópica. Assim, o olhar se desprende do órgão e passa a ser vislumbrado através de uma nova possibilidade: dos olhos do inconsciente.
RAVANELLO, Tiago; DUNKER, Christian Ingo Lenz; BEIVIDAS, Waldir.
Referências
RAVANELLO, Tiago; DUNKER, Christian Ingo Lenz; BEIVIDAS, Waldir. Uma via indireta para a abordagem do afeto: libido, gozo, pulsão escópica. Tempo psicanal., Rio de Janeiro , v. 49, n. 1, p. 9-36, jun. 2017 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-48382017000100002&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 11 dez. 2020.