Na medida em que requisita do Outro uma resposta, o homem faz do seu desejo o desejo dessa alteridade a quem ele se endereça:
“é muito simplesmente . . . como desejo do Outro que o desejo do homem ganha forma” (Lacan, 1960/1998, p. 828) – ainda que essa forma seja aquela interrogativa do “que queres tu de mim?”. Por meio dessa pergunta endereçada ao Outro, o sujeito procura certificar-se da existência de um sentido derradeiro naquilo que comparece em sua experiência sempre tão móvel quanto o “anel que vemos desaparecer e reaparecer num jogo de passa-passa” (Lacan, 1953-1954/1986, p. 58): um sentido capaz de condensar o inapreensível objeto supostamente adequado à demanda do Outro. Isso é o que levará Lacan, em seu grafo, a escrever o desejo enquanto uma lacuna, sintoma da hesitação permanentemente expressa sob a forma do “che vuoi?” .
(NUNES, T. R, 2015)
Através desta Passagem, Lacan apresenta as dimensões do desejo no que tange a cada sujeito. Recorrendo a literatura, Lacan se utiliza da obra “O diabo enamorado” de Jacques Cazotte:
Nesta obra, o protagonista Don Alvaro esta às voltas em busca do “feminino”, na tentativa de encontrar a “mulher”. Para concretizar esse encontro o protagonista faz uso de todas as forças ao seu redor, acabando por invocar o diabo, que ao surgir, lhe indaga: “Che vuoi“?, ou seja, o que queres?
Esta indagação é primordial nos trabalhos de Lacan, o que deseja um sujeito? Essa formula, essa indagação, contem em si uma estrutura que o analista deve sempre estar dirigindo ao analisando, não necessariamente se utilizando dessas palavras, mas sim da forma “Che Vuoi”. Por via dessa indagação, é possível abrir caminhos, considerando que não se trata de algo estruturado, mas sim, algo mais amplo, levando o analisando a associar. Por trás dessas estrutura existe a pergunta: que relação tens com o desejo? de que desejo você esta dizendo?”. Fundamentalmente o Che Vuoi nos leva a essa indagação tão singular, qual a relação do sujeito com o seu desejo.
Com isso Lacan considera que uma analise está para além da pergunta: “qual é o seu desejo”? mas também: “que desejo é esse”?. Ou seja, de tudo que o analisando esta trazendo, qual é o desejo do qual ele relaciona tais palavras, tais atos, tais queixas. O desejo pode estar escondido muitas vezes no discurso, nas repetições e no sujeito que se encontra em condição de objeto de desejo do outro. Por isso a importância de se utilizar dessa formula para abrir espaço, caminhos para que o desejo emerja.